Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se
insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a
alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos,
fechando portas, terminando capítulos - não importa o nome que damos, o que
importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram...
Você pode passar
muito tempo se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer para si mesmo que
não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas
coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente
transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus
pais, seu marido ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã, todos
estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos
sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode
estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos
entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará: não podemos
ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou
rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já
foi embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas
passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora.
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações,
mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que
tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que
está acontecendo em nosso coração - e o desfazer-se de certas lembranças
significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar... Deixar ir
embora. Soltar. Desprender-se.
Encerrando
ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque
simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o
disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em
quem é.
Sonia Hurtado -
jornalista